Olá, Hoje, venho falar sobre um assunto que nos últimos tempos, muitos pais têm nos procurado para perguntar como abordar o tema de diversos tipos de preconceitos com as crianças, em especial, o racismo, pois ninguém (pelo menos em sã consciência) gostaria de ter um filho racista.
Os pais, hoje, num mundo globalizado, estão cada vez mais atentos e querendo ferramentas de como educar crianças mais conscientes e de pensamento crítico apurado, e eu fico muito feliz com isso.
Sou mãe de três crianças e dentre elas uma fenotipicamente preta e o primeiro contato do meu filho com o racismo, foi aos 4 anos de idade, por conta de um penteado de tranças nagô. Até então, o meu filho não tinha percepção do racismo, até poderia ter passado por alguma situação de racismo, mas não houve percepção dele até esse acontecimento, o que foi muito pesado pra ele, pois não veio de um adulto, foi de um “igual”, de um amiguinho da creche, que o repreendeu dizendo que o cabelo dele estava esquisito e feio. Nós tínhamos voltado do Brasil naquele fim de semana e ele vinha sendo muito elogiado pelo penteado, desde a saída do aeroporto até a chegada na Alemanha. Todos dizendo o quanto ele estava lindo e maravilhoso e ele estava se sentindo incrível com aquele cabelo azul de tranças até uma outra criança de sua mesma idade dizer pra ele que achou o seu cabelo muito feio… Como empoderar uma criança diante de uma situação dessas? E como convencê-la de que o que o amiguinho disse, não deveria ter peso algum, assim como não ser levado em consideração? Eu, como mãe, busquei fortalecer a autoestima do meu filho. Nós lemos um livro. Um livro sobre as diferenças, e fui mostrando pra ele, que ele é lindo do jeitinho que ele é! E inclusive, esse penteado faz parte da construção de quem ele é.
Para despertar consciência racial nas crianças é preciso antes trabalhar o racismo com os adultos. Mas seria possível criar os pequeninos livres de preconceito?
A maioria dos comportamentos de um indivíduo é aprendido, ou seja, assimilado ao longo das experiências de vida e leva em consideração a convivência com o outro. Estudiosos do tema afirmam que o racismo é estrutural e que, de acordo com a Organização dos Estados Americanos (OEA), está intrínseco nas sociedades ocidentais.
A criança não nasce racista, porém existem crianças racistas, pois a criança é influenciada pelo meio em que está inserida. Diante da importância de tratarmos esse tema com adultos e crianças, venho aqui sugerir 4 dicas para educar uma criança antirracista, combater o racismo entre crianças e principalmente estimular o respeito às diferenças:
1. Respeito acima de preferências:
O diálogo é muito importante. Por vezes, a criança taxa um colega de “esquisito” ou “diferente”, por exemplo. Diante desta situação, você tem uma oportunidade para reforçar para sua criança que ela pode escolher seus amigos, de acordo com as afinidades, mas que necessariamente deve respeitar as diferenças. Independente da pessoa do coleguinha pertencer ao seu ciclo de amigos ou não. Reforçar que o respeito vem antes de quaisquer preferência, é importantíssimo.
2. Filmes e livros infantis sobre o tema:
A utilização de filmes e livros infantis, na luta contra os preconceitos e a favor da inclusão são excelentes atividades! Listamos aqui algumas sugestões:
FLOAT: é um curta-metragem lançado pela Pixar e baseado em uma história real e pessoal do roteirista e sua experiência com o filho que é autista, abordando a inclusão de pessoas que apresentam esse transtorno.
DRUFS: uma história que se desenrola em uma escola e por causa de uma lição, os alunos são desafiados a escreverem sobre suas famílias. E assim começa a história, e os alunos começam a entender diferentes peculiaridades que formam as diversas famílias. Esse seria um grande aprendizado sobre as diversidades com as quais todos nós lidamos, diariamente.
SHREK: um clássico do cinema infanto juvenil, que traz a desconstrução de estereótipos e a aceitação ao próximo. Neste filme é apresentado várias formas de amizade e amor, ultrapassando qualquer preconceito, unindo diferentes grupos.
Livros também são uma ótima ferramenta de combate ao preconceito, aqui listamos alguns:
Tudo bem ser diferente: O livro do escritor e ilustrador norte-americano Todd Parr têm como mote a diversidade. Tudo Bem Ser Diferente aborda assuntos como adoção, separação, deficiência e preconceito racial de maneira divertida.
Flicts: o livro conta a história de uma cor “diferente”, que não consegue se encaixar no arco-íris, nas bandeiras e em lugar nenhum. Ao longo da história, “Flicts” vai se conformando que “não tinha a força do vermelho, a imensidão do amarelo, nem a paz do azul”, mas entende que todas as pessoas, por mais diferentes, possuem seu lugar.
O Outro mundo de Pipo: A trama aborda a realidade de Pipo, um menino incrível, mas cuja forma de pensar e de agir é diferente das outras crianças. A forma lúdica empregada pelo autor aumenta o entendimento por parte de familiares e profissionais sobre a realidade de crianças e jovens com autismo, Síndrome de Asperger, Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), entre outros — todos ligados direta e indiretamente ao universo da neuro-diversidade. Para tanto, a proposta do material não é clínica, mas, sim, filosófica. Os livros desta nova série são destinados a todos que se interessam pelo tema, gerando sociabilização e, principalmente, aprendizado mútuo.
3. Permita que seu filho conviva com as diferenças e combata o preconceito infantil:
Levar seu filho para lugares frequentados por pessoas diversas, apresentar conteúdos de diferentes países e diferentes idiomas são outras atitudes importantes. Ressaltar como o mundo é grande e como ele possibilita aprendizados infinitos, são boas formas para treinar o olhar a perceber como as diferenças são importantes formas de expressão e de felicidade. Quanto mais seu filho for exposto às diferenças, com mais naturalidade ele irá encará-las.
Não tenha medo de apresentar o mundo para o seu filho e discutir questões importantes. Como, por exemplo, a pobreza, fome, responsabilidade social, economia etc. Claro que sempre adaptando as complexidades para a faixa-etária. Lembre-se que quanto menos resistência tivermos perante os assuntos, mais naturalidade teremos para conversar com os nossos filhos sobre as pluralidades.
E a minha última e mais importante dica:
4. Seja o exemplo:
Como em todas as outras questões envolvendo crianças, muito do aprendizado se dá pelo exemplo. Se você reforça comportamentos discriminatórios, faz comentários preconceituosos ou tem dificuldade para lidar com diferenças, há grandes chances de que seu filho repita isso. Aproveite a oportunidade para aprender junto com a criança sobre o tema. Além disso, respeite a criança em sua individualidade e identidade, reforçando a autoestima dela. Vale novamente lembrar que crianças não nascem preconceituosas, elas aprendem com os adultos a discriminar.
Conta para a gente, gostou das nossas dicas? O que você faz para criar uma criança sem preconceitos? E como você combate o preconceito infantil na sua casa?